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Sobre chiliques causados pela falta de energia elétrica

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Acordei cedo porque precisava terminar um trabalho. Levantei da cama e fui direto para o computador, hábito de quem ainda está se recusando a começar o dia e não quer machucar os olhos acendendo a luz. Notei que o carregador não estava funcionando e o meu primeiro pensamento foi achar que tinha queimado o T. Depois notei que a internet não estava pegando e a minha irmã apareceu informando que o prédio estava sem energia.

E aí começou uma pequena sequência de coisas que eu achei que podia fazer, “para aproveitar o tempo” enquanto esperava a energia voltar. Pensei: já que não dá para fazer o trabalho, vou postar no blog. Pensei: otária. Fui tomar café e coloquei uma fatia de pão na torradeira; percebi o erro, enchi uma caneca com água e coloquei no microondas. Desisti de tomar café. Como a energia não voltava e eu continuava inutilmente batendo a mão no interruptor antes de entrar em qualquer cômodo, saí de casa e fui usar a internet da universidade para terminar o trabalho. Voltei correndo para fazer o almoço. A zeladora me alertou na porta do prédio que a energia só voltaria de tardezinha. Subi as escadas ofegante, um vizinho passou por mim e comentou que “não está sendo fácil”, entrei no apartamento e peguei um copo d’água (quente). Suada. Nojenta. Resolvi que não dava para esperar e era hora de encarar um banho (frio).

Não tomo banhos frios nem no mais quente dos verões: a sensação que a água gelada traz é a de desespero. Dá até falta de ar. Olhei para o chuveiro como se ele fosse um desafiozinho de nada, mas, quando as primeiras gotas caíram na minha cabeça, eu já queria desistir. Enquanto respirava com dificuldade, tentava me lembrar dos motivos pelos quais as pessoas tomam banho. E fui bem sucedida – se você desconsiderar a minha vontade patética de cair no choro. Saí do chuveiro, me vesti e comecei o tenso processo de desembaraçar o cabelo. Não estava nem na metade quando a luz do banheiro acendeu sozinha. Perambulei pela casa apagando todas as luzes que agora estavam acesas.

Mas o que eu queria era gritar com o mundo todo.


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